sábado, 29 de agosto de 2015

Capitulo I

Capitulo I, O Homem e o Café

França, 2015

        É terça-feira, pelo menos assim acusam os jornais, estou sozinha sentada em frente a uma cafeteria, me indagando se devo ou não entrar e pedir um emprego, ainda tenho dinheiro, mas talvez não seja o suficiente... Um senhor para a minha frente e balbucia besteiras em francês, eu não compreendo muito, mas no pouco que compreendo sei que ha alguns trechos que revelam sua insatisfação com a mulher. Seu perfume desperta algo em mim, fazendo com que ele fique atraente. Meu pensamento viaja e de repente tudo some, estou agora dentro das minhas lembranças...



   - Larga isso, desce dai...
      Dizia meu namorado em tom de deboche, enquanto implorava minha descida da mesa do bar.
   - Ok , eu vou descer, mas você e a Ane tem que me segurar .
     Me preparei para pular, mas acabei arquitetando mal minha descida, que começou com um sobressalto e terminou com minha queda sobre meu namorado, fazendo com que ele perdesse seu equilíbrio, e levasse a Ane para o chão junto conosco.
     Um momento de silencio ampliou a dor da queda, que fez um estalo agudo no chão de taco sujo e desbotado. - Minha cabeça começa a doer agora, do mesmo modo que doeu naquele momento -. Em seguida risadas altas se espalharam pelo bar revelando a irrelevância da queda. Ane se levantou e me puxou junto, por alguns segundos meu rosto fervilhou e demonstrou minha vergonha, mas seguida de Matt e suas mãos quentes que afagavam minha cintura ela me deixou.



     Uma buzina me acorda e me deparo com o braço maduro e malhado a me segurar, agora estou no meio da calcada, enquanto a dois minutos atras estava fantasiando no meio da rua. O senhor me olha e sorri com um semblante inocente. Me sinto mal pelo o que estou prestes a fazer, mas suas covinhas se destacam com sorriso e afastam minha pureza e respeito. Deslizo minhas mãos pelo tecido de seu casaco e mordisco os lábios, revelando em uma frase o que desejo:

    - O senhor gostaria tomar um cafe?

      Ele demonstra espanto, mas não recua, avançamos em direção a rua mais movimentada da França sem pressa, sem padrões definidos, sem pretensões mentirosas, vamos e vamos com alma e coragem.                                                                           
                                                

      Abro os olhos apenas para confirmar que estou na realidade, mas o cansaço me vence e me faz deixar de ficar na realidade. Sinto o vento entrar e passar demoradamente sobre meu corpo nu, exposto sem vergonha alguma. O vento é frio e contrasta com a mão quente que ironicamente tenta cobrir meu corpo e mesmo que pareça impossível essa façanha, ela se torna possível metaforicamente, pois me sinto coberta pela mão desse homem solitário e desconhecido, que da vida já esperou muito e recebeu pouco. Me levanto, caminho para a varanda, a visão lá fora é bonita, mas curiosamente meus olhos se voltam para dentro da suíte. No escuro canto do quarto ele se movimenta com sua camisa branca sensualmente desabotoada, seu olhos ardem em brasa, sinto ele se aproximar, duas palavras, uma ação:
     - Quer fogo?
       Diz ele gentilmente estendo-me o esqueiro aberto a berrar em chamas, sorrio de canto, acendo o cigarro e o sigo para a cadeira que repousa fria e silenciosa na sacada. Sento-me em seu colo, e embora ele possua idade para ser meu pai, sinto em meu interior que é muito melhor o fato de não ser.


    

Nenhum comentário:

Postar um comentário