domingo, 20 de setembro de 2015

Capitulo II


Capitulo II, A viagem que nunca caba

       É como chegar de uma viagem depois de muito tempo fora, o cheiro familiar invade minhas narinas, enquanto as silhuetas  se movem constantemente e emitem sons familiares que invadem meus ouvidos. Caminho ate o pano branco que ornamenta a sala enquanto serve de divisória, minha mão em um impulso se estende e agarra o pano que começa a se afrouxar, no momento em que ele tenta vir ao chão, abro os olhos e tudo desaparece.


França, 2015

       Abro meus olhos e eles se enchem de lagrimas porque eu sei quem estava por trás do pano. Era minha mãe, quanta saudade. Eu saio do meu sonho, mas ele não sai de mim. Estou em pé a observar a cidade através da pequena janela de meu minusculo e velho apartamento, onde eu incrivelmente me sinto bem, afinal a liberdade é o sentimento mais estranho que nós humanos podemos ter, alguns esperam por ela uma vida, quando na verdade possuem ela nessa mesma vida e nunca se dão conta, porque se dessem não saberiam o que fazer com ela, já outros preferem pagar o valor alto que ela exige, e assim como eu se exilam de tudo que exige raízes, família, amigos, amores entre outros fatores que geram nossa prisão espontânea. Preparo meu café, enquanto continuo minha filosofia matinal, sempre faço isso, sempre me obrigo a responder-me três perguntas diárias: "Onde estou indo?", "Por que estou indo?" e "Devo ir?". As vezes acho isso ridículo, mas depois percebo que isso faz parte do meu eu, parte de quem sou, e por isso nunca devo pensar que isso não é importante.

                                                       

      Caminho pelo loft espaçoso e vazio apreciando cada obra de arte que tenta o preencher, meus dedos não se contentam e tocam as telas para sentir o relevo de cada traço, a admiração cresce dentro de mim,  o sentimento me toca assim como eu toco os quadros. As janelas jogam luz para todos os lados, enquanto o velho bule que ferve no fogão vomita assovios irritantes. Roman não está. Estou entediada quero fazer alguma coisa.
      A campainha interrompe meus pensamentos, caminho ate a porta de vidro fumê decorado, avisto do outro lado uma silhueta masculina, mas não é Roman. Por um momento exito mas depois minha mão se atreve e gira a maçaneta, estalo de fechaduras se liberando ecoam no silencio que se estabelece. Um homem jovem se revela após a abertura da porta, e depois de uma longa olhada em minha lingerie preta  composta por um sutiã de renda que cobre apenas meus mamilos e uma calcinha com renda nas laterais arrematada por uma transparência total nas partes intimas. . O jovem  eleva sua mão até o rosto, e  coça lentamente sua barba densa deixando pequenas marcas vermelhas na pele branca onde as unhas se atreveram a invadir, seu olhar é cativante e seus olhos azuis vidrantes, ele se mostra educado  ao mesmo tempo que cobre sua safadeza com um sorriso de desculpas:

       - Você deve ser a moça que Roman encomendou...
         Diz ele sem graça por substituir o termo prostituta por encomenda.
       - Na verdade não, ela furou com ele, e depois nos conhecemos.
         Ele se mostra decepcionado como uma criança que não encontra o que pediu de natal dentro do embrulho entregue pelo papai noel.
       - Me desculpe, não quis te ofender.
         Olho para ele e algo me provoca.
       - Você não me ofendeu, na verdade adoraria ser sua encomenda hoje. Mas é claro sem a parte do pagamento.

          O interesse exala pelos poros de ambos. A porta bate atras de nós enquanto encaixo minhas pernas em sua cintura, com o impulso do pulo e a forca das mãos do rapaz que repartem minhas nádegas ao me segurar, toda minha calcinha é comprimida para meu traseiro, deixando assim uma pressão intensa  em minha vagina que incrivelmente se encontra excitada. Não esperamos a chegada até a cama, pois a mesa do Roman grita por nós, os objetos se espalham  pelo chão, no impulso do momento sinto minha calcinha ser bruscamente rasgada, e não sei porque, mas isso me excita ainda mais. Sinto o choque térmico  quando minha pele quente entra em contato com a mesa gelada de mármore negro, mas isso logo se esvai com a chegada das mãos do rapaz que  agora se concentram em meus seios, e como sinônimo de provocação elas afastam gentilmente a renda preta de meu sutiã fazendo com que haja assim um atrito de tecido e mamilo.                     Sua língua chega gentilmente no contorno de minhas costelas, provocando um misto de cócegas e desejo. Quando finalmente afrouxamos as calças dele, a porta se abre bruscamente. É Roman , ele esta tão vidrado no guarda chuvas que insiste em não se fechar, que não percebe o que estamos fazendo. Tentamos nos distanciar, mas o tesão é tanto que não conseguimos, Roman se vira e nos flagra:
       - O que vocês estão fazendo???
         Diz ele em um tom raivoso.
       - O meu irmão? Você só pode estar brincando...
         Ele vem em nossa direção e fica nos encarando, eu sem pudor não êxito e continuo com as pernas abertas deixando a mostra minha vagina. Lanço um olhar para Roman  e seu irmão, ninguém se move, ninguém respira. Me levanto da mesa e vou em direção a Roman que permanece estático, me aproximo e inspiro devagar deixando o ar quente ir de encontro com seu rosto frio. Minhas mãos descem gentilmente ate seu pênis, e confirmo minhas suspeitas , Roman passa agora por um misto de desejo e repulsa, não há como existir no mundo nesse exato momento uma ereção maior que a dele.
         Ele acaricia gentilmente meus cabelos, suas mãos descem pelo meu rosto alavancando  meu corpo para cima através de meu queixo. Sua voz sai quente e cuidadosa.
         - O que você me sugere então? Que eu participe?
           O olhar dele percorre o corpo de seu irmão e sinto um arrepio de horror percorrer o corpo dele. Abro meus lábios e fecho rapidamente. Me aproximo mais do corpo de Roman e sussurro em seus ouvidos:
          - Acho melhor não, ao invés de participar, acho que você seria mais feliz se assistisse o que eu tenho para te mostrar.
             Ele contorce seu olhar, e reluta um pouco, mas acaba por aceitar.
           - Tudo bem.
             Quando eu finalmente me entrego ao irmão de Roman, e ele assiste tudo de primeira fila, começo a sentir lentamente parte de mim se desintegrar, seja cada desejo velho que se esvai, ou em cada melodia que deixa de compor minha coletânea de experiências para dar lugar a novas notas, como se eu estivesse presa a uma viagem que nunca acaba...
                                                       
                                               

sábado, 29 de agosto de 2015

Capitulo I

Capitulo I, O Homem e o Café

França, 2015

        É terça-feira, pelo menos assim acusam os jornais, estou sozinha sentada em frente a uma cafeteria, me indagando se devo ou não entrar e pedir um emprego, ainda tenho dinheiro, mas talvez não seja o suficiente... Um senhor para a minha frente e balbucia besteiras em francês, eu não compreendo muito, mas no pouco que compreendo sei que ha alguns trechos que revelam sua insatisfação com a mulher. Seu perfume desperta algo em mim, fazendo com que ele fique atraente. Meu pensamento viaja e de repente tudo some, estou agora dentro das minhas lembranças...



   - Larga isso, desce dai...
      Dizia meu namorado em tom de deboche, enquanto implorava minha descida da mesa do bar.
   - Ok , eu vou descer, mas você e a Ane tem que me segurar .
     Me preparei para pular, mas acabei arquitetando mal minha descida, que começou com um sobressalto e terminou com minha queda sobre meu namorado, fazendo com que ele perdesse seu equilíbrio, e levasse a Ane para o chão junto conosco.
     Um momento de silencio ampliou a dor da queda, que fez um estalo agudo no chão de taco sujo e desbotado. - Minha cabeça começa a doer agora, do mesmo modo que doeu naquele momento -. Em seguida risadas altas se espalharam pelo bar revelando a irrelevância da queda. Ane se levantou e me puxou junto, por alguns segundos meu rosto fervilhou e demonstrou minha vergonha, mas seguida de Matt e suas mãos quentes que afagavam minha cintura ela me deixou.



     Uma buzina me acorda e me deparo com o braço maduro e malhado a me segurar, agora estou no meio da calcada, enquanto a dois minutos atras estava fantasiando no meio da rua. O senhor me olha e sorri com um semblante inocente. Me sinto mal pelo o que estou prestes a fazer, mas suas covinhas se destacam com sorriso e afastam minha pureza e respeito. Deslizo minhas mãos pelo tecido de seu casaco e mordisco os lábios, revelando em uma frase o que desejo:

    - O senhor gostaria tomar um cafe?

      Ele demonstra espanto, mas não recua, avançamos em direção a rua mais movimentada da França sem pressa, sem padrões definidos, sem pretensões mentirosas, vamos e vamos com alma e coragem.                                                                           
                                                

      Abro os olhos apenas para confirmar que estou na realidade, mas o cansaço me vence e me faz deixar de ficar na realidade. Sinto o vento entrar e passar demoradamente sobre meu corpo nu, exposto sem vergonha alguma. O vento é frio e contrasta com a mão quente que ironicamente tenta cobrir meu corpo e mesmo que pareça impossível essa façanha, ela se torna possível metaforicamente, pois me sinto coberta pela mão desse homem solitário e desconhecido, que da vida já esperou muito e recebeu pouco. Me levanto, caminho para a varanda, a visão lá fora é bonita, mas curiosamente meus olhos se voltam para dentro da suíte. No escuro canto do quarto ele se movimenta com sua camisa branca sensualmente desabotoada, seu olhos ardem em brasa, sinto ele se aproximar, duas palavras, uma ação:
     - Quer fogo?
       Diz ele gentilmente estendo-me o esqueiro aberto a berrar em chamas, sorrio de canto, acendo o cigarro e o sigo para a cadeira que repousa fria e silenciosa na sacada. Sento-me em seu colo, e embora ele possua idade para ser meu pai, sinto em meu interior que é muito melhor o fato de não ser.


    

Introdução

             Aos 20 anos me encontro em meu quarto na calada da noite, estou aflita, guardo em meu âmago um misto de sentimentos que oscila entre ansiedade, medo e angústia. Me apreço e jogo dentro de minha mochila tudo o que eu acho que irá caber dentro do meu novo "eu" , nos passos suaves deixo minha casa, feito sabonete que escorrega da mão molhada, está feito, estou indo embora, sem rumo , sem sonhos, sem expectativas...